segunda-feira, 15 de abril de 2013

ABRIL

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Havia uma lua de prata e sangue
em cada mão.

Era Abril.

Havia um vento
que empurrava o nosso olhar
e um momento de água clara a escorrer
pelo rosto de mães cansadas.

Era Abril

que descia aos tropeções
as ladeiras da cidade.

Abril

tingindo de perfume
os hospitais
e colando um verso branco em cada farda.

Era Abril

o mês imprescindível que trazia
um sonho de bagos de romã
e o ar
a saber a framboesas.

Abril

um mês de flores concretas
colocadas na espoleta do desejo
flores pesadas de seiva e cânticos azuis
um mês de flores
um dia
um mar de flores
um mês.
Havia barcos a voltar
de parte nenhuma

em Abril

e homens que escavavam a terra
em busca da vertical.
O nosso lar passou a ser a rua
nesse mês sem sono.

Era Abril

e eu soltei o sumo
da palavras
e vi
dicionários a voar
nesse mês
e mulheres que se despiam abraçando
a pele das oliveiras.

Era Abril

que veio
que ardeu
e que partiu.

Abril

que deixou sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos meninos por haver.

José Fanha, in "Tempo Azul"

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