quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

CONFIDÊNCIAS









Mãe!

Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas
que ainda não viajei!
traze tinta encarnada para escrever estas coisas!
tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça
não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar te as minhas viagens,
aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei,
escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa.
Como a mesa. Eu também quero ter um feitio que sirva
exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça
é tudo tão verdade!

Almada Negreiros (Obra)

4 comentários:

anamarta disse...

Olá Filhota
Não podia deixar que ficasses triste comigo (embora se razão), então encontrei um poema que de certeza vais gostar, pois tem a ver contigo! e pus a tua foto... como tu querias!!! e agora já estás feliz? espero que sim!
beijinhos

peciscas disse...

Que falta me faz o afago da minha mãe, quando, já mesmo adulto, pousava a cabeça no seu colo.

Anónimo disse...

Deixou-me feliz pois. Deixou-me completa, essa vontade de viajar quase que desvanecia. Ficou só a vontade de passar o dia ao teu lado no sofá, a rir, a implicar, a sermos nós. E é disso que eu gosto.
Enquanto puder viajar pa perto de ti, enquanto te tiver, não preciso de mais viagens.
És-me tudo Ana Roque!!!ahahah

anamarta disse...

Olá Filhota! Eu tb enquanto estiver junto de ti não sinto necessidade de viagens!!
ADORO-TE! Muito................Muito!!!!!!!
beijokas
Mãe