sábado, 23 de fevereiro de 2008

Para José Afonso

21 Anos se passaram sobre a sua morte, mas Está Sempre

Presente.

o canto que se erguia
na tua voz de vento
era de sangue e oiro
e um astro insubmisso
que era menino e homem
fulgurava nas águas
entre fogos silvestres.
Cantavas para todos
os acordes da terra,
os obscuros gritos
e os delírios e as fúrias
de uma revolta justa
contra eternos vampiros.
Que imensa a aventura
da luz por entre as sombras!
A vida convertia-se
num rio incandescente
e num prodígio branco
o canto sobre os barcos!
E o desejo tão fundo
centrava-se num ponto
em que atingia o uno
e a claridade intacta.
O canto era carícia
para uma ferida extrema
que era de todos nós
na angústia insustentável.
Mas ressurgia dela
a mais fina energia
ressuscitando o ser
em plenitude de água
e de um fogo amoroso.
É já manhã cantor
e o teu canto não cessa
onde não há a morte
e o coração começa.



- António Ramos Rosa -

4 comentários:

Meg disse...

Anamarta,
Já lá vão 20 anos que o Zeca nos deixou, tão prematuramente e com aquela doença horrível.
Conheci-o pessoalmente há muitos anos, era ele prof. de História no Liceu Salazar (imagina a ironia), em Lourenço Marques. Adoeceu qundo já andava muito desanimado com o rumo que as coisas tomavam...
Se ele soubesse como estamos hoje!

Ainda estive para fazer um post mas calculei que muitos blogs iriam comemorar. Eu já estou aqui contigo.

Um abraço e bom fim de semana

Pepe Luigi disse...

Sentida e justa homenagem ao Homem, ao Humanista, ao Poeta, ao Trovador que foi José Afonso, tão oportunamente expressa com a inclusão deste profundo poema de António Ramos Rosa.

Fique bem e desejo-lhe um Bom Fim de Semana.

Isabel Filipe disse...

não são 20 anos ... são 21 acho eu ...


não conhecia este poema ... e gostei imenso de o ler ...


hoje tb faço uma homenagem a este GRANDE Homem


beijinhos e bom sábado

peciscas disse...

Este poema, do grande Ramos Rosa, descreve, de maneira muito exacta, aquilo que o Zeca era e o que significava.
Tive o privilégio de o conhecer pessoalmente e de o ouvir, quando em "tempos de escuridão", ele cantava, em salas da Universidade, meio às escondidas.
Ele a cantar e nós a escutar, com um misto de reverência e de emoção.
O Zeca era uma homem que estava para além do seu tempo,com uma verticalidade e uma dimensão que são muito raras de encontrar.