Não há, não,
duas folhas iguais em toda a criação.
Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há de certeza, duas folhas iguais.
Limbo todas têm,
que é próprio das folhas;
pecíolo algumas;
bainha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas,
Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.
Nas formas presentes,
nos actos distantes,
mesmo semelhantes
são sempre diferentes.
Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelos nas ondas que fazem;
outras vão e jazem
sem mais movimento.
Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.
É dessas que eu sou ...
MIGUEL TORGA
Fotografia: Gianluca Moret
1 comentário:
Mais um monumental poema de um dos meus poetas preferidos!
Torga consegue pôr-nos a dançar com as folhas, embalados por um doce vento presente na atmosfera criada perante o leitor.
Uma maravilha!
Um abraço e viva o bom gosto!
Jorge G.
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