A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.
A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa.
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.
A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
Ary dos Santos (1937-1984)
8 comentários:
Ana Marta,
As palavras de Ary nesta cidade de palavras, de sons, de luz que é Lisboa...continuam a ecoar por todas as ruas e becos...
Belas fotografias!
B eijinhos
Inesquecível e insubstituível Ary.
Anamarta,
~Hoje tive sorte, porque tem sido impossível entrar para comentar.
Hoje foi à primeira,
Também eu, Anamarta tenho no Ary uma das vozes mais importantes do antes 25 de Abril.Este poema, também foi um dos primeiros que publiquei quando iniciei o Blogue,
Gostei de o ver aqui de novo... porque É PRECISO E URGENTE.
Um abraço
Não conhecia este poema ... é simplesmente delicioso ... e não podias ter escolhido melhores fotos para ilustrar ...
adorei o post
beijinhos
Gosto dessa cidade dos electricos e das ruas estreitas, das ginjinhas... mas a globalização parece querer acabar com tudo. Um bom fim de semana (Thanks It's Friday!)
estamos sempre a conhecer... este por acaso ainda não tinha lido, obrigado :-)
beijão
paradoxos
Gosto do teu blog e da atmosfera que o perpassa. Aqui há Liberdade, há solidariedade, há vida...
Obrigada, Anamarta!
Bem hajas!
Ah, Ary está entre os maiores.
Beijo
O encantador Bairro Alto e palavras fortes :)
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