quarta-feira, 21 de maio de 2008

Companheiros

 

quero

escrever-me de homens

quero

calçar-me de terra

quero ser

a estrada marinha

que prossegue depois do último caminho

e quando ficar sem mim

não tereri escrito

senão por vós irmãos de um sonho

por vós

que não sereis derrotados

deixo

a paciência dos rios

a idade dos livros

mas não lego

mapa nem bússola

por que andei sempre

sobre meus pés

e doeu-me

às vezes

viver

hei-de inventar

um verso que vos faça justiça

por ora

basta-me o arco-íris

em que vos sonho

basta-te saber que morreis demasiado

por viverdes de menos

mas que permaneceis sem preço

companheiros

  

Mia Couto

Fotografia: Net

11 comentários:

Anónimo disse...

Boa Poesia no feriado...
Kiss

Jorge P. Guedes disse...

Belo poema de Mia Couto, como ele já nos habituou.

Um abraço.
Jorge P.G.

Odele Souza disse...

Música, poema, e foto formam um belo conjunto que faz desta visita uma prazer.

Um abraço.

Carminda Pinho disse...

Ana,
que bom que os poemas de Mia Couto se vão assim espalhando na blogosfera.

Beijos

Isamar disse...

Anamarta, amiga!

De Mia Couto gosto de tudo. Da prosa, Hist�rias Abensonhadas � uma del�cia, Uma casa chama Terra um rio chamado tempo...� poesia. A sua escrita � seiva viva em constante renova�o. � assim uma l�ngua.
Beijinhos

Tem um bom dia!

A. João Soares disse...

Boa escolha. Um poema que é um livro aberto. O rio, com a sua persistência, a firmeza de objectivos, a permanência de estratégia, a coerência de atitudes, é para mim um óptimo exemplo para a vida. Em cada momento, escolhe o caminho mais correcto com a missão que se atribuiu de seguir sempre a linha de maior declive e de não teimar contra obstáculos invencíveis, escolhendo contorná-los para prosseguir até à foz.
Um abraço
A. João Soares

Isabel Filipe disse...

uma maravilha de poema ...~

que eu não conhecia, deste meu conterrâneo, que tanto aprecio.


obrigada pela partilha


beijinhos e bom fim de semana

peciscas disse...

por que andei sempre

sobre meus pés

e doeu-me

às vezes

viver


Subscrevo integralmente estas palavras. Tenho tentado ser assim.
Mas, de facto, às vezes dói um bocado...

Carla disse...

pois MIa Couto...adoro!
que bela escolha
beijos de bom fim de semana

Meg disse...

Anamarta,

Não podia deixar de vir aqui ler o Mia Couto. Que de saudades, Anamarta!

...por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho!

E se sonho!

Um abraço



Anamarta,se não venho aqui todos os posts é apenas por...motivos de força maior.

Elvira Carvalho disse...

De Mia Couto eu não conheço muito. Mas do que conheço gosto. Este poema eu não conhecia. E é muito bonito.
Um abraço e bom Domingo