Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
(in PROVAVELMENTE ALEGRIA, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1985, 3ª Edição)
9 comentários:
Anamarta.
Não sendo eu uma admiradora de Saramago, achei este texto um pouco menos "agressivo" em relação à Língua. Às vezes basta uma primeira leitura que nos aproxima ou afasta dum autor.
Um abraço
O homem também escreve boa poesia!
Não conhecia o texto.
Quanto a colocar um poema (s) no seu blog, disponha!
Depois diga-me, por favor e ponha o link, tá bem?
Bjs
AnaMarta,
Saramago aqui, tão ternamente doce.
Não conhecia este poema, mas sei que escreveu poesia.
Beijos
Gosto de Saramago e gostei muito deste poema.
Um beijo.
PS.Li que você não conseguiu ouvir a mensagem de António para Flavia.
Caso queira, posso te enviar a faixa por e-mail.
Achei bonito o texto ...
pese embora eu nada gostar de José Saramago.
Beijinhos
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
Esta é, para além da qualidade poética do texto, uma frase que bem poderá ser um lema, um projecto, um rumo.
Olá Ana!
Obrigada pela dica! Deixo o Porto rumo à Cruz-Quebrada! In my dreams... Bjs! :)
Obrigada por trazeres aqui um excelente texto de Saramago...
Tive problemas com o computador, que espero estarem resolvidos. Mas é difícil entrar aqui, pois um irritante anúncio não sei a quê faz pendurar isto tudo...
...é lindo! Que belo poema desse grande escritor!
Beijos e muita luz...
Enviar um comentário