Lá vai no Mar da Palha o Cacilheiro,
comboio de Lisboa sobre a água:
Cacilhas e Seixal, Montijo mais Barreiro.
Pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa.
Na Ponte passam carros e turistas
iguais a todos que há no mundo inteiro,
mas, embora mais caras, a Ponte não tem vistas
como as dos peitoris do Cacilheiro.
Leva namorados, marujos,
soldados e trabalhadores,
e parte dum cais
que cheira a jornais,
morangos e flores.
Regressa contente,
levou muita gente
e nunca se cansa.
Parece um barquinho
lançado no Tejo
por uma criança.
Num carreirinho aberto pela espuma,
la vai o Cacilheiro, Tejo à solta,
e as ruas de Lisboa, sem ter pressa nenhuma,
tiraram um bilhete de ida e volta.
Alfama, Madragoa, Bairro Alto,
tu cá-tu lá num barco de brincar.
Metade de Lisboa à espera do asfalto,
e já meia saudade a navegar.
Leva namorados, marujos,
soldados e trabalhadores,
e parte dum cais
que cheira a jornais,
morangos e flores.
Regressa contente,
levou muita gente
e nunca se cansa.
Parece um barquinho
lançado no Tejo
por uma criança.
Se um dia o Cacilheiro for embora,
fica mais triste o coração da água,
e o povo de Lisboa dirá, como quem chora,
pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa
Ary dos Santos (1937-1984)
Fotografia: Net
14 comentários:
As imagens para o movimento estão publicadas.
Embora tenha uma opinião formada, gostaria de ler a vossa.
Beijinho e bom domingo.
Anamarta,
Ler Ary dos Santos é sempre uma espécie de aventura, porque nos leva a olhar para o que nos rodeia e a que normalmente não damos atenção.
Não conhecia este poema, mas vou roubar-to.
Bom fim de semana, Anamarta!
Um abraço
Ana Marta
Simplesmente maravilhoso!
Bela semana amiga!
Um poema lindo de Ary, que eu desconhecia.
Obrigada.
Beijos
Boa semana!:)
Um lindo poema. E que saudades do Ary, do seu talento, e da sua lingua afiada...
Um abraço e uma boa semana
há imenso tempo que não lia este poema...
vou bom relê-lo ...
beijinhos
Leio o poema e ouço o Ary. Amiga a sua voz,aquele vozeirão, fazia-me chorar quando o ouvia dizer poesia, falar entre amigos. Disse-lhe isto, em Lisboa, em 1972. Nunca morrerá, este amigo! Cá continuamos a recordá-lo porque a Liberdade hasteia-se todos os dias. É um estado de espírito, é um saber estar, é um saber respeitar... é saber degustar a vida.
Beijinhos
p.s. Não consigo levar o teu selo. Vou tentar outra vez.
pois amiga, para mim Ary é sempre uma referência...não conhecia este poema, razão pela qual tive um gosto especial em lê-lo
beijos de boa semana
Um bom início de semana.
Por favor, participem na votação que está a decorrer no clube entre hoje e amanhã. É importante.
Obrigada
CLUBE DE BLOGUISTAS PORTUGUESES
Um dos mais belos trabalhos da discografia do Carlos do Carmo.
Do poema do Ary, só basta dizer que tinha a marca do Ary.
Tenho esse disco, ainda em vinil.
Olá amiga, grande poema de Ary dos Santos...Espectacular...
Beijos
Grato, amiga, por mostrares a rosa que te ofereci.
Anamarta,
Ainda não entendi porque me custa entrar e comentar no teu blog. Estou há tempos aqui e a porta como de outras vezes, não se abria.
Mas já sabes que não desisto fácil, não é?
Sobre teu post. Ary dos Santos. Já tive oportunidade de ouví-lo e gostei muito. Este poema está também muito bonito.
Um beijo carinhoso pra ti.
poema lindo do bem conhecido Ary!
Uma visitinha rapida para deixar um beijinho e resto de uma boa semana!
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