domingo, 15 de junho de 2008

O Cacilheiro

Cacilheiro.jpg

Lá vai no Mar da Palha o Cacilheiro,
comboio de Lisboa sobre a água:
Cacilhas e Seixal, Montijo mais Barreiro.
Pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa.
Na Ponte passam carros e turistas
iguais a todos que há no mundo inteiro,
mas, embora mais caras, a Ponte não tem vistas
como as dos peitoris do Cacilheiro.

Leva namorados, marujos,
soldados e trabalhadores,
e parte dum cais
que cheira a jornais,
morangos e flores.
Regressa contente,
levou muita gente
e nunca se cansa.
Parece um barquinho
lançado no Tejo
por uma criança.
Num carreirinho aberto pela espuma,
la vai o Cacilheiro, Tejo à solta,
e as ruas de Lisboa, sem ter pressa nenhuma,
tiraram um bilhete de ida e volta.
Alfama, Madragoa, Bairro Alto,
tu cá-tu lá num barco de brincar.
Metade de Lisboa à espera do asfalto,
e já meia saudade a navegar.
Leva namorados, marujos,
soldados e trabalhadores,
e parte dum cais
que cheira a jornais,
morangos e flores.
Regressa contente,
levou muita gente
e nunca se cansa.
Parece um barquinho
lançado no Tejo
por uma criança.
Se um dia o Cacilheiro for embora,
fica mais triste o coração da água,
e o povo de Lisboa dirá, como quem chora,
pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa

Ary dos Santos (1937-1984)


Fotografia: Net


14 comentários:

Maísa disse...

As imagens para o movimento estão publicadas.
Embora tenha uma opinião formada, gostaria de ler a vossa.
Beijinho e bom domingo.

Meg disse...

Anamarta,

Ler Ary dos Santos é sempre uma espécie de aventura, porque nos leva a olhar para o que nos rodeia e a que normalmente não damos atenção.
Não conhecia este poema, mas vou roubar-to.
Bom fim de semana, Anamarta!
Um abraço

Anónimo disse...

Ana Marta

Simplesmente maravilhoso!

Bela semana amiga!

Carminda Pinho disse...

Um poema lindo de Ary, que eu desconhecia.
Obrigada.

Beijos
Boa semana!:)

Elvira Carvalho disse...

Um lindo poema. E que saudades do Ary, do seu talento, e da sua lingua afiada...
Um abraço e uma boa semana

Isabel Filipe disse...

há imenso tempo que não lia este poema...

vou bom relê-lo ...

beijinhos

Isamar disse...

Leio o poema e ouço o Ary. Amiga a sua voz,aquele vozeirão, fazia-me chorar quando o ouvia dizer poesia, falar entre amigos. Disse-lhe isto, em Lisboa, em 1972. Nunca morrerá, este amigo! Cá continuamos a recordá-lo porque a Liberdade hasteia-se todos os dias. É um estado de espírito, é um saber estar, é um saber respeitar... é saber degustar a vida.

Beijinhos

p.s. Não consigo levar o teu selo. Vou tentar outra vez.

Carla disse...

pois amiga, para mim Ary é sempre uma referência...não conhecia este poema, razão pela qual tive um gosto especial em lê-lo
beijos de boa semana

lagartinha disse...

Um bom início de semana.
Por favor, participem na votação que está a decorrer no clube entre hoje e amanhã. É importante.
Obrigada
CLUBE DE BLOGUISTAS PORTUGUESES

peciscas disse...

Um dos mais belos trabalhos da discografia do Carlos do Carmo.
Do poema do Ary, só basta dizer que tinha a marca do Ary.
Tenho esse disco, ainda em vinil.

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá amiga, grande poema de Ary dos Santos...Espectacular...
Beijos

peciscas disse...

Grato, amiga, por mostrares a rosa que te ofereci.

Odele Souza disse...

Anamarta,
Ainda não entendi porque me custa entrar e comentar no teu blog. Estou há tempos aqui e a porta como de outras vezes, não se abria.
Mas já sabes que não desisto fácil, não é?

Sobre teu post. Ary dos Santos. Já tive oportunidade de ouví-lo e gostei muito. Este poema está também muito bonito.

Um beijo carinhoso pra ti.

fj disse...

poema lindo do bem conhecido Ary!
Uma visitinha rapida para deixar um beijinho e resto de uma boa semana!