sábado, 24 de janeiro de 2009

Fernando Nobre - Grito e choro por Gaza e por Israel

 

Fernando NobreHá momentos em que a nossa consciência nos impede, perante acontecimentos trágicos, de ficarmos silenciosos porque ao não reagirmos estamos a ser cúmplices dos mesmos por concordância, omissão ou cobardia.
O que está a acontecer entre Gaza e Israel é um desses momentos. É intolerável, é inaceitável e é execrável a chacina que o governo de Israel e as suas poderosíssimas forças armadas estão a executar em Gaza a pretexto do lançamento de roquetes por parte dos resistentes ("terroristas") do movimento Hamas.
Importa neste preciso momento refrescar algumas mentes ignorantes ou, muito pior, cínicas e destorcidas:
- Os jovens palestinianos, que são semitas ao mesmo título que os judeus esfaraditas (e não os askenazes que descendem dos kazares, povo do Cáucaso), que desesperados e humilhados actuam e reagem hoje em Gaza são os netos daqueles que fugiram espavoridos, do que é hoje Israel, quando o então movimento "terrorista" Irgoun, liderado pelo seu chefe Menahem Beguin, futuro primeiro ministro e prémio Nobel da Paz, chacinou à arma branca durante uma noite inteira todos os habitantes da aldeia palestiniana de Deir Hiassin: cerca de trezentas pessoas. Esse acto de verdadeiro terror, praticado fria e conscientemente, não pode ser apagado dos Arquivos Históricos da Humanidade (da mesma maneira que não podem ser apagados dos mesmos Arquivos os actos genocidários perpetrados pelos nazis no Gueto de Varsóvia e nos campos de extermínio), horrorizou o próprio Ben Gourion mas foi o acto hediondo que provocou a fuga em massa de dezenas e dezenas de milhares de palestinianos para Gaza e a Cisjordânia possibilitando, entre outros factores, a constituição do Estado de Israel..
- Alguns, ou muitos, desses massacrados de hoje descendem de judeus e cristãos que se islamizaram há séculos durante a ocupação milenar islâmica da Palestina. Não foram eles os responsáveis pelos massacres históricos e repetitivos dos judeus na Europa, que conheceram o seu apogeu com os nazis: fomos nós os europeus que o fizemos ou permitimos, por concordância, omissão ou cobardia! Mas são eles que há 60 anos pagam os nossos erros e nós, a concordante, omissa e cobarde Europa e os seus fracos dirigentes assobiam para o ar e fingem que não têm nada a ver com essa tragédia, desenvolvendo até à náusea os mesmos discursos de sempre, de culpabilização exclusiva dos palestinianos e do Hamas "terrorista" que foi eleito democraticamente mas de imediato ostracizado por essa Europa sem princípios e anacéfala, porque sem memória, que tinha exigido as eleições democrática para depois as rejeitar por os resultados não lhe convirem. Mas que democracia é essa, defendida e apregoada por nós europeus?
- Foi o governo de Israel que, ao mergulhar no desespero e no ódio milhões de palestinianos (privados de água, luz, alimentos, trabalho, segurança, dignidade e esperança ), os pôs do lado do Hamas, movimento que ele incentivou, para não dizer criou, com o intuito de enfraquecer na altura o movimento FATAH de Yasser Arafat. Como inúmeras vezes na História, o feitiço virou-se contra o feiticeiro, como também aconteceu recentemente no Afeganistão.
- Estamos a assistir a um combate de David (os palestinianos com os seus roquetes, armas ligeiras e fundas com pedras...) contra Golias (os israelitas com os seus mísseis teleguiados, aviões, tanques e se necessário...a arma atómica!).
- Estranha guerra esta em que o "agressor", os palestinianos, têm 100 vezes mais baixas em mortos e feridos do que os "agredidos". Nunca antes visto nos anais militares!
- Hoje Gaza, com metade a um terço da superfície do Algarve e um milhão e meio de habitantes, é uma enorme prisão. Honra seja feita aos "heróis" que bombardeiam com meios ultra-sofisticados uma prisão praticamente desarmada (onde estão os aviões e tanques palestinianos?) e sem fuga possível, à semelhança do que faziam os nazis com os judeus fechados no Gueto de Varsóvia!
- Como pode um povo que tanto sofreu, o judeu do qual temos todos pelo menos uma gota de sangue (eu tenho um antepassado Jeremias!), estar a fazer o mesmo a um outro povo semita seu irmão? O governo israelita, por conveniências políticas diversas (eleições em breve...), é hoje de facto o governo mais anti-semita à superfície da terra!
- Onde andam o Sr. Blair, o fantasma do Quarteto Mudo, o Comissário das Nações Unidas para o Diálogo Inter-religioso e os Prémios Nobel da Paz, nomeadamente Elie Wiesel e Shimon Perez? Gostaria de os ouvir! Ergam as vozes por favor! Porque ou é agora ou nunca!
- Honra aos milhares de israelitas que se manifestam na rua em Israel para que se ponha um fim ao massacre. Não estão só a dignificar o seu povo, mas estão a permitir que se mantenha uma janela aberta para o diálogo, imprescindível de retomar como único caminho capaz de construir o entendimento e levar à Paz!
- Honra aos milhares de jovens israelitas que preferem ir para as prisões do que servir num exército de ocupação e opressão. São eles, como os referidos no ponto anterior, que notabilizam a sabedoria e o humanismo do povo judeu e demonstram mais uma vez a coragem dos judeus zelotas de Massada e os resistentes judeus do Gueto de Varsóvia!
Vergonha para todos aqueles que, entre nós, se calam por cobardia ou por omissão. Acuso-os de não assistência a um povo em perigo! Não tenham medo: os espíritos livres são eternos!
É chegado o tempo dos Seres Humanos de Boa Vontade de Israel e da Palestina fazerem calar os seus falcões, se sentarem à mesa e, com equidade, encontrarem uma solução. Ela existe! Mais tarde ou mais cedo terá que ser implementada ou vamos todos direito ao Caos: já estivemos bem mais longe do período das Trevas e do Apocalipse.
É chegado o tempo de dizer BASTA! Este é o meu grito por Gaza e por Israel (conheço ambos): quero, exijo vê-los viver como irmãos que são.

Fernando José de La Vieter Ribeiro Nobre, 4 de Janeiro de 2009

Fonte: Recebido por email.

10 comentários:

lagartinha disse...

Anamarta
Tema complicado, este...
O vício de se matarem uns aos outros já é demasiado velho para mudar...infelizmente.
Beijocas

peciscas disse...

Aqui está um depoimento dito por uma voz insuspeita e que me parece bastante rigoroso.
De facto, há por aí muito jornalista e comentarista que apresenta uma visão muito limitada e parcial dos trágicos acontecimentos na faixa de Gaza.
E tenho de concordar que aquilo que por ali se passa é uma luta de David contra Golias.
Um destes dias, ouvi relatos de um repórter da Antena 1 que entrou no território depois da invasão o que ele descreveu é espantoso. O processo de destruição levado a cabo pelas tropas israelitas é simplesmente abominável. Mas há gente aí a gritar que se trata da "defesa" do estado de Israel.
Mas não! Aquilo não é defesa mas massacre. E, ainda por cima, eles sabem muito bem que não vão acabar com o Hamas.
Mas a continuidade do conflito terá sempre a conivência dos poderosos do mundo que, se o quisessem verdadeiramente, depressa resolveriam a questão.

samuel disse...

Os dois comentários anteriores mostram bem como estamos divididos sobre o assunto.
Peciscas, lê, vê e tenta tomar uma posição.
Lagartinha, foge do assunto como diabo da cruz (isso é lá com eles), com o chavão do "matam-se uns aos outros". Ainda por cima acha que é por vício...
Como se mais de mil mortos, uma grande parte, crianças, dos lado dos palestinianos, contra 20 ou 30 do lado dos israelitas, fosse em alguma parte do mundo, "matarem-se uns aos outros".
Para equilibrar a coisa, a seguir certamente aparecerá aqui alguém a fazer a defesa de Israel, "que tem toda a razão, ou não fossem o povo escolhido de Deus!..."

Abreijos

lagartinha disse...

Anamarta
Com um tema destes, lança-se sempre o diálogo...por isso, espero que não te importes, mas gostava de responder ao Samuel, só para ver se não há confusôes:

Samuel,
Não fujo do assunto, apenas não me apeteceu alongar-me. Andam a matar-se uns aos outros sim, sejam 20 de um lado ou 300 do outro, o valor de uma vida humana não pode ser comparado em número...

É por "vício", pela sua antiguidade. Nunca souberam o que era viver em paz, formam os filhos desde crianças para a guerra e isto é tanto de um lado como do outro...não gosto de falar disto, porque quando vejo os corpos, principalmente das crianças, não vejo nacionalidades, mas penso sempre que podia ser um dos meus filhos, ou marido, ou amigo.

Por mais válidas que sejam as pretensões, são povos que nunca viveram em paz entre eles e na minha opinião, nem sequer sabem que enquanto miúdos de 6 anos andarem com kalashnikovs nas mãos em vez de um boneco qualquer, não há acordos de paz que vinguem...

E já me alonguei...

Bjs

Marques Correia disse...

O dr Nobre que vá dizer basta à rapaziada do Hamas.
Talvez eles resolvam interessar-se mais pelo bem estar do "seu" povo, pela economia em vez do terrorismo (perdão, a luta de libertação), pela educação em vez do treino no uso de cintos-bomba, pela emancipação da mulher em vez do seu uso e posse como animal doméstico, menos valorizado que um camelo.
Talvez o Há Mais oiça o bom dr Nobre, talvez o empale pela sua compreensão para com os odiados judeus.

Nothingandall disse...

Gostava que aceitasse um desafio que deixei lá no blog sobre SONHOS ...

anamarta disse...

Não tenho por hábito responder a comentários no meu Blog, mas não ficaria de bem comigo se não respondesse ao senhor Marques Correia:
As palavras, quando escritas ou ditas, são interpretadas por quem as lê ou ouve de acordo com o seu próprio carácter, a sua ideologia, as suas opções. Para mim, as palavras do Dr. Fernando Nobre são um grito contra todas as forças de violência, sejam de grupos sejam de estados. Situo-as, e bem a meu ver, no contexto histórico do nascimento do Estado de Israel, para chegar à conclusão de que, depois de tantas décadas de violência, é imprescindível dizer BASTA! e fazer tudo para que dois povos possam coexistir.
É esta a minha interpretação das palavras do Dr. Fernando Nobre. A sua, tão carregada de ódio, é profundamente sectária. Para mim, inadmissível.

Portaria59 disse...

Aprenda a roubar Portugal aqui: http://portaria-59.blogspot.com/

beijos amigas

lagartinha disse...

Anamarta
Passei para deixar beijinhos a curar-me de uma valente gripalhada.

lagartinha disse...

Vim deixar beijocas de novo...