Se partires, não me abraces - a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.
Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces -
o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém - longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
Se me abraçares, não partas.
Poema: Maria do Rosário Pedreira (1959)
7 comentários:
Bonito
"Se me abraçares, não partas." :)
Anamarta,
Gostei imenso deste poema...
" Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;..."
Lindíssimo!
Um abraço
O perfume...o perfume nunca mais se esquece, não.
Muito bonito.
Beijos
Tenho pena de ter de confessar que só recentemente descobri esta grande poeta que á a Maria do Rosário Pedreira. E, em parte, devo essa descoberta à Aldina Duarte.
Ou seja, o fado continua a prestar grandes servoços à nossa cultura.
Lindíssimo poema de uma das minhas poetas preferidas.
Bela escolha...
Quando alguém nos abraça como deve ser ser... é certo que não parte nunca, do nosso coração.
Bjs
Maria do Rosário Pedreira é uma das poetas contemporâneas vivas que mais aprecio.
Bem-hajas por tê-la recordado e por me teres trazido o mar.
Beijinhos
Bem-hajas!
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