Havia uma lua de prata e sangue
em cada mão.
Era Abril.
Havia um vento
que empurrava o nosso olhar
e um momento de água clara a escorrer
pelo rosto de mães cansadas.
Era Abril
que descia aos tropeções
as ladeiras da cidade.
Abril
tingindo de perfume
os hospitais
e colando um verso branco em cada farda.
Era Abril
o mês imprescindível que trazia
um sonho de bagos de romã
e o ar
a saber a framboesas.
Abril
um mês de flores concretas
colocadas na espoleta do desejo
flores pesadas de seiva e cânticos azuis
um mês de flores
um dia
um mar de flores
um mês.
Havia barcos a voltar
de parte nenhuma
em Abril
e homens que escavavam a terra
em busca da vertical.
O nosso lar passou a ser a rua
nesse mês sem sono.
Era Abril
e eu soltei o sumo
da palavras
e vi
dicionários a voar
nesse mês
e mulheres que se despiam abraçando
a pele das oliveiras.
Era Abril
que veio
que ardeu
e que partiu.
Abril
que deixou sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos meninos por haver.
José Fanha, in "Tempo Azul"
Fotografia: Olhares - Fotografia de Raul Alexandre
7 comentários:
Não conhecia este poema.
gostei de o ler.
bjs e bfds
Sempre
o Zé Fanha sabe cantar, como ninguém, esse Abril
que veio
que ardeu
e que partiu
mas que é urgente fazer regressar!
Ana Marta,
Belo poema!
Beijos
Os poetas todos, cantam Abril.
E o seu significado para nós, portugueses.
Não vou fugir à regra. No dia 24 coloco um dos meus.
Obrigado pelas suas palavras no meu blog.
Bom fim de semana.
Um abraço
Olha o José Fanha! Uma voz péssima, como ele próprio certamente não deixará de confirmar.
UMA ALMA ENORME! O que é bem mais importante!
Um abraço.
Jorge P.G.
Sou Livre, porque se fez Abril! Boa escolha musical. Kiss e Bom Domingo
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