quinta-feira, 17 de abril de 2008

ABRIL

Marcha da Indignação 

Havia uma lua de prata e sangue
em cada mão.

Era Abril.

Havia um vento
que empurrava o nosso olhar
e um momento de água clara a escorrer
pelo rosto de mães cansadas.

Era Abril

que descia aos tropeções
as ladeiras da cidade.

Abril

tingindo de perfume
os hospitais
e colando um verso branco em cada farda.

Era Abril

o mês imprescindível que trazia
um sonho de bagos de romã
e o ar
a saber a framboesas.

Abril

um mês de flores concretas
colocadas na espoleta do desejo
flores pesadas de seiva e cânticos azuis
um mês de flores
um dia
um mar de flores
um mês.
Havia barcos a voltar
de parte nenhuma

em Abril

e homens que escavavam a terra
em busca da vertical.
O nosso lar passou a ser a rua
nesse mês sem sono.

Era Abril

e eu soltei o sumo
da palavras
e vi
dicionários a voar
nesse mês
e mulheres que se despiam abraçando
a pele das oliveiras.

Era Abril

que veio
que ardeu
e que partiu.

Abril

que deixou sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos meninos por haver.

 

José Fanha, in "Tempo Azul"

Fotografia: Olhares - Fotografia de Raul Alexandre

7 comentários:

Isabel Filipe disse...

Não conhecia este poema.


gostei de o ler.


bjs e bfds

mentes inquietas disse...

Sempre

peciscas disse...

o Zé Fanha sabe cantar, como ninguém, esse Abril

que veio
que ardeu
e que partiu

mas que é urgente fazer regressar!

Carminda Pinho disse...

Ana Marta,
Belo poema!

Beijos

vieira calado disse...

Os poetas todos, cantam Abril.
E o seu significado para nós, portugueses.
Não vou fugir à regra. No dia 24 coloco um dos meus.
Obrigado pelas suas palavras no meu blog.
Bom fim de semana.

Um abraço

Jorge P. Guedes disse...

Olha o José Fanha! Uma voz péssima, como ele próprio certamente não deixará de confirmar.
UMA ALMA ENORME! O que é bem mais importante!

Um abraço.
Jorge P.G.

Anónimo disse...

Sou Livre, porque se fez Abril! Boa escolha musical. Kiss e Bom Domingo