quinta-feira, 29 de maio de 2008

Maldição

Maldito seja o que busca matar o sonho dos homens.

Maldita seja a vergonha.

Maldito seja o pesar.

Maldito seja o silêncio que nos cala antes da morte.

Maldito seja o que é falso, ou induz em confusão.

Malditos sejam os bons que o são só por piedosos.

Maldito seja o cruel por ódio ou por pidade.

Maldito seja o que aceita argumentos que não pesa.

Maldito seja o que força alguém a acreditá-lo.

Maldito seja o orgulho do que o alheio despreza.

Maldito seja o que finge humildades que não tem.

Maldito seja o que faz dos desejos maldição.

Maldito seja o desejo de só nada desejar.

Maldito seja o que inveja o pão de que não precisa.

Maldito seja o que encontra na fome conformação.

Maldito seja o que é feio por gosto da fealdade.

Maldita seja a beleza que à vida seja traição.

Maldita seja a riqueza que de fartura não serve.

Maldita seja a fartura quando a todos não chegar.

Maldito seja o saber arvorado em tirania.

Maldito seja o que ignora e não dá por ignorar.

Maldito seja o que impõe o que para si não quer.

maldito seja o que jura contra a sua convicção.

Maldito seja o que alcança sem o esforço de colher.

Maldito seja o temor de luz demais nos cegar.

 

Armindo Rodrigues "IN O Poeta Perguntador"

Fotografia: Net

11 comentários:

O Puma disse...

Com respeito pela diferença

malditos os mentirosos

Carminda Pinho disse...

Malditos sejam todos os malditos.

Beijos

Isamar disse...

Malditos sejam aqueles que nos cortam os sonhos e que nos colocam nas m�os uma vida cheia de desesperan�a.

Eu conhe�o o poeta mas n�o lera ainda este poema. T�o verdadeiro!

Excelente, este teu canto, Anamarta!

Beijos

samuel disse...

Grande texto!
Bela escolha!

Abreijos

samuel disse...

...e reparei que ainda não tinha pendurado o "Anamarta" na lapela do "Cantigueiro". Agora já lá está.

Abreijos

A. João Soares disse...

Um bom post. Uma lista muito completa de malditos. Todos nós numa ocasião ou outra somos malditos. É preciso fazer um esforço em busca da perfeição. Com estes pequenos esforços individuais o mundo, que é o somatório de todos nós, ficará melhor para as pessoas serem mais felizes.
Beijos
João

Anónimo disse...

Desculpando-me a intromissão
AMIGOS portugueses

Venho em nome da minha irmã Elisabete Cunha que hoje ás 15 horas recebeu um tiro no ombro defendendo-se de um assalto no seu carro e encontra-se na UTI,meu intuito é uma corrente POSITIVA para que ela se recupere o mais rápido possível.como ela sempre participa ativamente da blogosfera tenha piedade e façam um cordão de positivismo!

obrigada brasileiro

obrigada!

gloria cunha

Elvira Carvalho disse...

E malditos sejam os que não nos deixam viver.
Um abraço e bom fim de semana

peciscas disse...

Há que tempos não lia um texto do Armindo Rodrigues.
Benditas as suas palavras!

Meg disse...

Anamarta, depois de uma pequena pausa forçada, cá estou hoje a começar a retribuir aos amigos a
simpatia com que me têm visitado.
Sem pressas, para poder ler o que escreveram. É o mínimo e estou a tentar fazê-lo, Anamarta!

Quanto aos malditos, se eu fosse o Armindo Martins diria antes que "DETESTO" em vez de amaldiçoar, mas cada palavra que ele diz. Como gostaria de o contrariar mas estou totalmente de acordo. Da primeira à ultima palavra.
Um abraço e um bom fim de semana,

Jorge P. Guedes disse...

Mais um poeta menos conhecido, talvez, a ser aqui divulgado por si. Poeta de valor mas que confesso conhecer muito mal.
A atestar a sua qualidade, deixo-lhe aqui palavras de Mário Soares numa entrevista que deu a Anabela Mota Ribeiro, em 2004, e publicada no DN.
Se já as conhecia, lamento, mas achei curioso o retrato que transparece do Armindo Rodrigues, no que contou Soares. Parece-me ter sido um homem duro e implacável, pouco dado a meias-verdades, como deixa antever neste "poema-panfleto" que a Ana Marta publicou.

"Há o caso de um amigo, o Armindo Rodrigues, era um bom poeta, escolhi-o, aliás, para esta edição [«Os poemas da minha vida»]. Quando veio o 25 de Abril, o Armindo fez-se comunista, estranhamente, porque não tinha nenhum temperamento comunista. Ganhou-me um grande... não direi ódio, mas um grande azar. Os comunistas a certa altura acharam que eu é que tinha sido o tipo que impediu que eles chegassem ao poder - o que é verdade, de certa maneira. Não fui só eu, mas contribuí. Era eu Primeiro-Ministro e ele tinha escrito já uns artigos um pouco impertinentes contra mim, morre o Ary dos Santos, com quem eu tinha boas relações, estava em câmara ardente na Sociedade dos Autores, era amigo dele e ele era um grande poeta; julguei-me no dever de ir lá. Os comunistas acharam que aquilo era uma provocação! A única pessoa que me falou foi a Isabel da Nóbrega. Cumprimentei uma irmã dele, uma hostilidade seca e um silêncio de morte, fui-me embora. No dia seguinte, dizem-me que o Armindo Rodrigues tinha escrito um artigo contra mim no jornal: «Mário Soares, ontem assisti a um acto inaudito da sua parte! O descaramento com que foi à cerimónia de um camarada que morreu! Pus-me a pensar nas relações que tivemos antes de você ser o nosso inimigo, e, uma vez que sou mais velho, devo morrer antes de si...».

«Escusa de ir ao meu funeral»?

Escreveu: «Venho proibi-lo de ir ao meu funeral, e dei ordens em minha casa para, se isso acontecer, o expulsarem a pontapé escada abaixo». Isso não me impede de considerar o Armindo Rodrigues um grande poeta, foi por isso que o seleccionei. Houve muita gente que me fez coisas dessas. Não tenho nada que me amargure na vida. Realmente não tenho nenhum ódio a ninguém, sou assim constituído."


Um abraço e um bom domingo.
Jorge P.G.