Maldito seja o que busca matar o sonho dos homens.
Maldita seja a vergonha.
Maldito seja o pesar.
Maldito seja o silêncio que nos cala antes da morte.
Maldito seja o que é falso, ou induz em confusão.
Malditos sejam os bons que o são só por piedosos.
Maldito seja o cruel por ódio ou por pidade.
Maldito seja o que aceita argumentos que não pesa.
Maldito seja o que força alguém a acreditá-lo.
Maldito seja o orgulho do que o alheio despreza.
Maldito seja o que finge humildades que não tem.
Maldito seja o que faz dos desejos maldição.
Maldito seja o desejo de só nada desejar.
Maldito seja o que inveja o pão de que não precisa.
Maldito seja o que encontra na fome conformação.
Maldito seja o que é feio por gosto da fealdade.
Maldita seja a beleza que à vida seja traição.
Maldita seja a riqueza que de fartura não serve.
Maldita seja a fartura quando a todos não chegar.
Maldito seja o saber arvorado em tirania.
Maldito seja o que ignora e não dá por ignorar.
Maldito seja o que impõe o que para si não quer.
maldito seja o que jura contra a sua convicção.
Maldito seja o que alcança sem o esforço de colher.
Maldito seja o temor de luz demais nos cegar.
Armindo Rodrigues "IN O Poeta Perguntador"
Fotografia: Net
11 comentários:
Com respeito pela diferença
malditos os mentirosos
Malditos sejam todos os malditos.
Beijos
Malditos sejam aqueles que nos cortam os sonhos e que nos colocam nas m�os uma vida cheia de desesperan�a.
Eu conhe�o o poeta mas n�o lera ainda este poema. T�o verdadeiro!
Excelente, este teu canto, Anamarta!
Beijos
Grande texto!
Bela escolha!
Abreijos
...e reparei que ainda não tinha pendurado o "Anamarta" na lapela do "Cantigueiro". Agora já lá está.
Abreijos
Um bom post. Uma lista muito completa de malditos. Todos nós numa ocasião ou outra somos malditos. É preciso fazer um esforço em busca da perfeição. Com estes pequenos esforços individuais o mundo, que é o somatório de todos nós, ficará melhor para as pessoas serem mais felizes.
Beijos
João
Desculpando-me a intromissão
AMIGOS portugueses
Venho em nome da minha irmã Elisabete Cunha que hoje ás 15 horas recebeu um tiro no ombro defendendo-se de um assalto no seu carro e encontra-se na UTI,meu intuito é uma corrente POSITIVA para que ela se recupere o mais rápido possível.como ela sempre participa ativamente da blogosfera tenha piedade e façam um cordão de positivismo!
obrigada brasileiro
obrigada!
gloria cunha
E malditos sejam os que não nos deixam viver.
Um abraço e bom fim de semana
Há que tempos não lia um texto do Armindo Rodrigues.
Benditas as suas palavras!
Anamarta, depois de uma pequena pausa forçada, cá estou hoje a começar a retribuir aos amigos a
simpatia com que me têm visitado.
Sem pressas, para poder ler o que escreveram. É o mínimo e estou a tentar fazê-lo, Anamarta!
Quanto aos malditos, se eu fosse o Armindo Martins diria antes que "DETESTO" em vez de amaldiçoar, mas cada palavra que ele diz. Como gostaria de o contrariar mas estou totalmente de acordo. Da primeira à ultima palavra.
Um abraço e um bom fim de semana,
Mais um poeta menos conhecido, talvez, a ser aqui divulgado por si. Poeta de valor mas que confesso conhecer muito mal.
A atestar a sua qualidade, deixo-lhe aqui palavras de Mário Soares numa entrevista que deu a Anabela Mota Ribeiro, em 2004, e publicada no DN.
Se já as conhecia, lamento, mas achei curioso o retrato que transparece do Armindo Rodrigues, no que contou Soares. Parece-me ter sido um homem duro e implacável, pouco dado a meias-verdades, como deixa antever neste "poema-panfleto" que a Ana Marta publicou.
"Há o caso de um amigo, o Armindo Rodrigues, era um bom poeta, escolhi-o, aliás, para esta edição [«Os poemas da minha vida»]. Quando veio o 25 de Abril, o Armindo fez-se comunista, estranhamente, porque não tinha nenhum temperamento comunista. Ganhou-me um grande... não direi ódio, mas um grande azar. Os comunistas a certa altura acharam que eu é que tinha sido o tipo que impediu que eles chegassem ao poder - o que é verdade, de certa maneira. Não fui só eu, mas contribuí. Era eu Primeiro-Ministro e ele tinha escrito já uns artigos um pouco impertinentes contra mim, morre o Ary dos Santos, com quem eu tinha boas relações, estava em câmara ardente na Sociedade dos Autores, era amigo dele e ele era um grande poeta; julguei-me no dever de ir lá. Os comunistas acharam que aquilo era uma provocação! A única pessoa que me falou foi a Isabel da Nóbrega. Cumprimentei uma irmã dele, uma hostilidade seca e um silêncio de morte, fui-me embora. No dia seguinte, dizem-me que o Armindo Rodrigues tinha escrito um artigo contra mim no jornal: «Mário Soares, ontem assisti a um acto inaudito da sua parte! O descaramento com que foi à cerimónia de um camarada que morreu! Pus-me a pensar nas relações que tivemos antes de você ser o nosso inimigo, e, uma vez que sou mais velho, devo morrer antes de si...».
«Escusa de ir ao meu funeral»?
Escreveu: «Venho proibi-lo de ir ao meu funeral, e dei ordens em minha casa para, se isso acontecer, o expulsarem a pontapé escada abaixo». Isso não me impede de considerar o Armindo Rodrigues um grande poeta, foi por isso que o seleccionei. Houve muita gente que me fez coisas dessas. Não tenho nada que me amargure na vida. Realmente não tenho nenhum ódio a ninguém, sou assim constituído."
Um abraço e um bom domingo.
Jorge P.G.
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